terça-feira, 12 de julho de 2016

Helicóptero de R$ 40 milhões nunca chegou à região do Xingu




 Aeronave custou R$ 40 milhões, mas nunca chegou à região do Xingu

“Eu fico me perguntando onde foi parar esse helicóptero? Um negócio caro desses e ninguém dá uma satisfação para o povo dessa região.”, o questionamento é feito pela dona de casa Maria Francisca Silva Sousa, que mora bem perto do batalhão da Polícia Militar em Altamira, mas já teve a casa invadida por criminosos, duas vezes. Ela, centenas de moradores e autoridades, se perguntam onde foi parar a aeronave adquirida pela empresa Norte Energia S.A., com recursos da usina hidrelétrica Belo Monte, e que até hoje nunca passou um dia sequer na região.

O equipamento avaliado em R$ 40 milhões de reais foi comprado nos Estados Unidos, e repassado oficialmente à Secretaria de Segurança Pública do Estado em janeiro deste ano. Na cerimônia de entrega, o presidente da empresa, Duílio Figueiredo, anunciou vários outros investimentos para a região do Xingu, e passou a documentação do equipamento para o estado. Na época, o Secretário de Segurança Pública, Jeannot Janssen informou que a aeronave pertencia à região do Xingu, e que depois de ser registrada pela Agência Nacional de Aviação (ANAC) em Manaus, no Amazonas, ela retornaria em definitivo para Altamira.

Passados quase cinco meses, o destino do helicóptero segue um mistério. Em abril, uma comissão do senado que acompanha o andamento das obras na usina hidrelétrica Belo Monte visitou a região, e usou o helicóptero depois de pedir apoio logístico para o governo do estado. Essa seria a primeira grande viagem da aeronave, e a última, já que após esse voo, ninguém mais viu ou ouviu falar do equipamento. A falta de informação tem incomodado os municípios da região, que sofrem com uma crescente onda de violência.

Apesar das críticas ao valor do helicóptero, e aos custos com sua manutenção, quem entende de segurança pública afirma, um equipamento como este pode representar a diferença entre salvar uma vida, ou evitar que criminosos fujam após cometer um crime. “O helicóptero é mais aplicado em operações de longa distância, que requer um pouco de visão de área geográfica, apesar do custo de manutenção ser alto, mas o resultado que ele (helicóptero) traz para as ações policiais acaba por fazer valer tanto investimento”, esclarece o professor Hélio Maciel, advogado, especialista em psicopedagogia, e professor de metodologia científica aplicada à segurança pública, na Bahia.

No Rio de Janeiro a polícia não conseguiu evitar que um dos maiores traficantes do estado fosse resgatado por outros criminosos porque os helicópteros da secretaria de segurança estão parados por falta de manutenção. Lá, eles são primordiais por conta do tipo de terreno, e das distâncias que a polícia precisa enfrentar. Na região da Transamazônica não é diferente, além das longas distâncias entre uma cidade e outra, que exige muito tempo de carro, as estradas são de péssima qualidade, o que põe em risco a vida dos agentes de segurança que precisam sair em perseguição, ou operações policias.

Um exemplo recente foi um ataque ocorrido essa semana a um paciente que estava internado no hospital municipal de Medicilândia, cerca de 90 km de Altamira. A vítima foi morta a tiros na frente de outros pacientes e funcionários, o criminoso fugiu, e o reforço nas buscas ao suspeito levou quase quatro horas. De helicóptero, esse tempo seria de pelo menos uma hora. O “sumiço” da aeronave vem sendo debatido em Altamira, e chegou à câmara municipal, onde os vereadores cobram uma resposta do estado. “Foram investidos mais de 100 milhões de reais em segurança pública na região, parte desses recursos serviu para comprar esse helicóptero, e nós queremos saber por que ele ainda não está em Altamira, já que nos foi dito que ele seria utilizado na segurança das cidades no entorno da obra”, questionou o vereador Victor Conde, do PMDB.

Em nota a empresa Norte Energia informou que o helicóptero foi entregue ao Governo do Estado em janeiro deste ano, e que a empresa não tem mais nenhuma responsabilidade sobre o paradeiro da aeronave. A Secretaria de Segurança Pública foi contatada, mas os e-mails solicitando informações sobre onde estaria o equipamento, e quando ele seria entregue à região não foram respondidos. Enquanto isso, os agentes de segurança pública se viram como podem para dar conta de cobrir uma área de cerca de 1.200 km de estrada de chão.



Por Karina Pinto, originalmente publicado em O Xingu.com  

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