Aeronave custou R$ 40 milhões, mas nunca chegou à região do Xingu
“Eu fico me perguntando onde foi parar esse helicóptero? Um negócio caro
desses e ninguém dá uma satisfação para o povo dessa região.”, o questionamento
é feito pela dona de casa Maria Francisca Silva Sousa, que mora bem perto do
batalhão da Polícia Militar em Altamira, mas já teve a casa invadida por
criminosos, duas vezes. Ela, centenas de moradores e autoridades, se perguntam
onde foi parar a aeronave adquirida pela empresa Norte Energia S.A., com
recursos da usina hidrelétrica Belo Monte, e que até hoje nunca passou um dia
sequer na região.
O equipamento avaliado em R$ 40 milhões de reais foi comprado nos
Estados Unidos, e repassado oficialmente à Secretaria de Segurança Pública do
Estado em janeiro deste ano. Na cerimônia de entrega, o presidente da empresa,
Duílio Figueiredo, anunciou vários outros investimentos para a região do Xingu,
e passou a documentação do equipamento para o estado. Na época, o Secretário de
Segurança Pública, Jeannot Janssen informou que a aeronave pertencia à região
do Xingu, e que depois de ser registrada pela Agência Nacional de Aviação
(ANAC) em Manaus, no Amazonas, ela retornaria em definitivo para Altamira.
Passados quase cinco meses, o destino do helicóptero segue um mistério.
Em abril, uma comissão do senado que acompanha o andamento das obras na usina
hidrelétrica Belo Monte visitou a região, e usou o helicóptero depois de pedir
apoio logístico para o governo do estado. Essa seria a primeira grande viagem
da aeronave, e a última, já que após esse voo, ninguém mais viu ou ouviu falar
do equipamento. A falta de informação tem incomodado os municípios da região,
que sofrem com uma crescente onda de violência.
Apesar das críticas ao valor do helicóptero, e aos custos com sua
manutenção, quem entende de segurança pública afirma, um equipamento como este
pode representar a diferença entre salvar uma vida, ou evitar que criminosos
fujam após cometer um crime. “O helicóptero é mais aplicado em operações de
longa distância, que requer um pouco de visão de área geográfica, apesar do
custo de manutenção ser alto, mas o resultado que ele (helicóptero) traz para
as ações policiais acaba por fazer valer tanto investimento”, esclarece o
professor Hélio Maciel, advogado, especialista em psicopedagogia, e professor
de metodologia científica aplicada à segurança pública, na Bahia.
No Rio de Janeiro a polícia não conseguiu evitar que um dos maiores
traficantes do estado fosse resgatado por outros criminosos porque os
helicópteros da secretaria de segurança estão parados por falta de manutenção.
Lá, eles são primordiais por conta do tipo de terreno, e das distâncias que a
polícia precisa enfrentar. Na região da Transamazônica não é diferente, além
das longas distâncias entre uma cidade e outra, que exige muito tempo de carro,
as estradas são de péssima qualidade, o que põe em risco a vida dos agentes de
segurança que precisam sair em perseguição, ou operações policias.
Um exemplo recente foi um ataque ocorrido essa semana a um paciente que
estava internado no hospital municipal de Medicilândia, cerca de 90 km de
Altamira. A vítima foi morta a tiros na frente de outros pacientes e
funcionários, o criminoso fugiu, e o reforço nas buscas ao suspeito levou quase
quatro horas. De helicóptero, esse tempo seria de pelo menos uma hora. O
“sumiço” da aeronave vem sendo debatido em Altamira, e chegou à câmara
municipal, onde os vereadores cobram uma resposta do estado. “Foram investidos
mais de 100 milhões de reais em segurança pública na região, parte desses
recursos serviu para comprar esse helicóptero, e nós queremos saber por que ele
ainda não está em Altamira, já que nos foi dito que ele seria utilizado na
segurança das cidades no entorno da obra”, questionou o vereador Victor Conde,
do PMDB.
Em nota a empresa Norte Energia informou que o helicóptero foi entregue
ao Governo do Estado em janeiro deste ano, e que a empresa não tem mais nenhuma
responsabilidade sobre o paradeiro da aeronave. A Secretaria de Segurança
Pública foi contatada, mas os e-mails solicitando informações sobre onde
estaria o equipamento, e quando ele seria entregue à região não foram
respondidos. Enquanto isso, os agentes de segurança pública se viram como podem
para dar conta de cobrir uma área de cerca de 1.200 km de estrada de chão.
Por
Karina Pinto, originalmente publicado em O Xingu.com
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