WELLINGTON HUGLES
De Tucuruí
Foto: Wellington Hugles
Quatro crianças foram as vítimas
fatais da epidemia viral que alastra a população infantil da etnia Assurini, na
aldeia Trocará, localizada as margens da Rodovia BR 422 (Transcametá) distante
cerca de 25 km da zona urbana de Tucuruí, sudeste do Pará.
Segundo informações das
lideranças indígenas dos Assurinis, desde o último dia 11, diversas crianças
apresentaram distúrbios, com insuficiência respiratória, febre alta e
complicações nos órgãos, evoluindo para dispnéia paroxística noturna.
Em função à distância para os
hospitais da região, e a falta de atenção básica que deveria ser realizada
preventivamente pela Prefeitura de Tucuruí, Governo do Pará e a Secretaria
Especial de Saúde Indígena (Sesai), braço do Ministério da Saúde para a atenção
a saúde dos indígenas, as crianças estavam sendo tratadas na aldeia, mas em
função a evolução da doença, de forma rápida, foi transferida para o HRT de
Tucuruí.
Inicialmente as crianças
enfermas foram atendidas no Polo de Saúde Indígena (Posto de Saúde), localizado
na Aldeia Trocará, mas, tudo de forma improvisada, em função a falência da
saúde indígena, que está com a falta de equipamentos médicos, transporte de
pacientes, ambulâncias e medicamentos.
A enfermeira responsável pelo
polo, Keise Helaine Pinto, orientou a liderança indígena o Cacique Kajungawa,
que realizasse a internação imediata das crianças suspeitas de pneumonia, no
hospital da cidade, em função a evolução rápida dos casos, que agravam a noite
e se instalam no organismo das crianças em apenas 24 horas.
Óbitos - Na manhã da última
quarta-feira (20), o primeiro bebê foi internado no Hospital Regional de
Tucuruí (HRT), com um quadro clínico de complicações respiratórias, segundo os
médicos que atenderam a criança de apenas um mês de vida, seu quadro demostrava
uma suspeita de metapneumovírus, infelizmente a criança foi a óbito no final da
noite, sendo descartada pelos médicos, após os resultados dos exames, sua morte
por pneumonia.
Na quinta-feira (21), outro bebê
de apenas dois meses, também foi internado as pressas no HRT, com o mesmo
problema de saúde, insuficiência respiratória, febre alta e complicações nos
órgãos, falecendo no final da tarde. Os dois casos foram comunicados a Sespa e
ao Departamento de Infectologia do município de Tucuruí, preocupando a direção
do hospital, que realizou inúmeros exames preventivos nas vítimas, para poder entender
as causas que levaram a morte, sendo descartado a priori, um surto de H1N1 ou
coqueluche, mas o resultado oficial deverá ser anunciado em até 30 dias.
Na sexta-feira (22), mais uma
criança de nove meses foi trazida da aldeia Trocará, e internada no HRT, seu
estado clínico necessitava de cuidados emergências, sendo inclusive, solicitada
ao setor de regulação do Governo do Pará, a transferência da criança através de
UTI Aérea para a capital, mas sendo negada a autorizada da transferência pelo
setor de regulação da Sespa.
A equipe médica do HRT fez
todo o possível para tentar salvar a vida da criança, que já estava bastante
debilitada, infelizmente o bebê também foi a óbito na manhã do sábado (23).
Os corpos das duas primeiras
crianças foram entregues aos familiares, estranhamente sem passarem por
necropsia pela equipe do IML de Tucuruí, sendo os corpos sepultados na tarde da
sexta-feira (22), no cemitério indígena localizado na aldeia Trocará.
O corpo da criança de nove
meses, que faleceu no sábado (23), no HRT, em Tucuruí, foi levado para o
Instituto Médico Legal (IML) de Belém, onde passará por necropsia, sendo ainda
colhido material para biopsia, para que sejam identificadas as causas que estão
ocasionando as mortes das crianças indígenas dos Assurinis.
Epidemia – Na manhã do sábado
(23), mais duas crianças foram levadas para internação no HRT, em função aos
óbitos ocorridos com as outras, a direção determinou a transferência imediata
para Belém, mesmo sem a liberação do transporte aéreo que deveria ser garantido
pelo Governo do Estado, a prefeitura municipal disponibilizou uma ambulância do
SAMU 192, que além das duas crianças enfermas que estavam no HRT, mais quatro outras
crianças, que estavam em estado crítico na aldeia Trocará firam levadas para
Belém.
Infelizmente durante a viagem,
mais um bebê de quatro meses foi a óbito, aumentado para quatro as vítimas do
surto viral, ainda não identificado.
Na noite do sábado (23), por
volta das 23 h, a ambulância com as crianças indígenas e seus pais, chegou a
Belém, elas foram levadas inicialmente para o PSM da 14 de Março, sendo
atendidas pelo médico pediatra de plantão, observando a complexidade dos casos,
e sem leito para suas internações, e o óbito de uma delas durante a viagem, encaminhou
para a Unidade de Diagnóstico de Meningite (UDM) do Hospital Universitário João
Barros Barreto.
O Hospital Universitário João
Barros Barreto (HUJBB), informou em nota, que mesmo sem leitos disponíveis,
conseguiu a internação imediata dos enfermos. Duas crianças estão na ala pediátrica,
duas na Unidade de Diagnóstico em Meningite (UDM) e uma em um quarto de
isolamento do Programa de Tuberculose Multirresistente (TBMR). A outra que
chegou morta foi levada para o IML da capital.
Como as crianças indígenas
estão com suspeita de H1N1, foi necessário o isolamento preventivo.
Proliferação – O domingo foi
de grande movimentação na aldeia Trocará, que fica a 22 km da cidade, desde as
primeiras horas, os 600 indígenas residentes, receberam uma equipe da
Secretaria de Saúde de Tucuruí, que colheram material para os exames de H1N1 e
Coqueluche, que deverá ser diagnosticado em até 30 dias.
Nesta verificação, cerca de
110 crianças foram identificados com a febre viral, os sintomas são os mesmos
observados nas crianças vítimas fatais: insuficiência respiratória, febre alta
e complicações nos órgãos.
Preventivamente os índios afetados,
foram orientados a evitar sair no sol, e terem contatos com as outras crianças
e adultos saudáveis. Máscaras foram distribuídas para evitar a proliferação da
doença.
No único Posto de Saúde da
aldeia Trocará, durante a manhã deste domingo, nenhum medicamento estava
disponível para a manutenção da saúde dos enfermos, nem mesmo na rede básica de
saúde da Prefeitura de Tucuruí, foi necessário à prefeitura realizar em caráter
de urgência, a compra direta de uma quantidade de remédios em uma rede de
farmácia da cidade, para suprir a necessidade do tratamento emergencial e
preventivo dos suspeitos de estarem infectados.
Segundo informações de Waita
Assurini, sobrinho do Cacique Kajungawa, a última epidemia viral na aldeia
Trocará, ocorreu em 2003, onde foram registrados inúmeros óbitos de crianças e
adultos. “Nossa preocupação é que, sem a manutenção da saúde indígena, que está
falida através do modelo adotado pela Sesai-MS/Funai. Nossa comunidade
Assurini, fica a mercê de todas as doenças e epidemias, sem um tratamento
adequado e medicamentos que garantam nossa imunização”.
Outra situação que preocupa os
indígenas, e a incidência da entrada de inúmeras pessoas de fora, em nas suas reservas,
que são localizadas na zona rural, “culminando com a entrada de doenças e sua
proliferação, trazidas pelos visitantes da zona urbana, vírus estes que se
instalam rapidamente no organismo desprotegido dos indígenas, colocando em
risco à saúde, em função a fragilizada, em se comparada a dos moradores da
cidade”.
Transferência – A situação dos
indígenas na aldeia Trocará, já está em estado de alerta, a população moradora
está em polvorosa, na noite deste domingo (24), por volta das 21 h, mais uma
ambulância com cerca de 5 crianças indígenas e seus pais, saiu as pressas da
aldeia, em direção a capital, distante 450 km, em busca de socorro, em função
ao quadro de saúde desesperadora dos bebês.
O HRT único hospital do estado
na região, especializado em média e alta complexidade, está sem condições de
receber estes pacientes, em função as suas limitações para este tratamento, sendo
a única e viável opção, a transferência via rodoviária dos pacientes, haja
vista, a recusa do enviou de UTI Aérea para os pacientes indígenas, que
necessitam de ir à busca de uma alternativa para salvar as vidas das crianças indígenas
da etnia Assurini.
É necessário que a Secretaria
de Saúde do Pará juntamente com a de Tucuruí e a Secretaria Especial de Saúde
Indígena (Sesai), tomem decisões urgentes para equacionar a proliferação desta epidemia,
que está alarmando a comunidade indígena, e preocupando os mais de 110 mil habitantes
de Tucuruí, que também poderão estrar em risco, se confirmada à epidemia, através
desta febre viral, que já é considerada pelos infectologistas fatal.
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