Profissionais com livre
trânsito nos Conselhos Regionais de Economia e de Engenharia, desde os tempos
em que atuava como professores na Universidade Federal do Pará, estão se
mobilizando para dar uma dura resposta ao Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transportes (DNIT) pelo tratamento que tem sido dispensado ao
projeto de derrocamento do Pedral do Lourenço. O grupo, tendo à frente três
professores hoje inativos, sendo um da área de economia, pretende cobrar
inclusive do reitor Carlos Maneschy uma posição oficial em relação ao assunto.
O descontentamento com o DNIT
e o Ministério dos Transportes, derivada especificamente da indefinição em
torno da Hidrovia do Tocantins, já vem se acumulando de longa data, mas cresceu
em intensidade na quarta-feira, quando foi divulgado o teor de um ofício
endereçado ao senador Jader Barbalho (P|MDB/PA) pelo Ministério dos Transportes
tendo como tema central exatamente o Pedral do Lourenço.
No ofício, acompanhado de um
documento preparado pelo DNIT e assinado pelo seu gerente de projeto, Zeno José
Andrade Gonçalves, o Ministério dos Transportes afirma que, “cumpridas
integralmente às ações técnicas descritas [sobre o projeto], já foram iniciadas
aquelas necessárias ao lançamento do edital para licitação do empreendimento”.
As tais “ações técnicas” dizem respeito, principalmente, à redefinição da
largura do canal de navegação – que era de 70 metros no estudo inicial, realizado
pela UFPA, e que acabou em 145 metros no projeto final, já aprovado pelo DNIT.
Essa mudança – entre outras de
natureza técnica – resultou de um processo um tanto complicado e, sob muitos
aspectos, considerado “nebuloso” por técnicos paraenses. Depois de aprovar e
até licitar o projeto da UFPA – realizado por uma equipe da Faculdade de
Engenharia Naval –, o Ministério dos Transportes decidiu engavetá-lo em 2011,
tendo para isso cancelado sem maiores explicações o processo licitatório. Em
seguida, recebeu da Vale um novo projeto, contratado junto a uma empresa
privada.
Como havia entre os dois
estudos – o da UFPA e o da Vale – o que o DNIT agora classifica como
“relevantes diferenças”, o próprio Departamento tratou de encomendar um
terceiro projeto, este último a cargo da Universidade Federal do Paraná.
É esse último estudo,
realizado pela UFPR e que, acolhendo parecer da Marinha do Brasil, duplicou a
largura do canal de navegação, que o DNIT considera ter equacionado
tecnicamente a questão. Com base nesse entendimento, o Ministério dos
Transportes informou ao senador Jader Barbalho que já foram iniciadas as ações
necessárias ao lançamento do edital para licitação do empreendimento.
Citadas no documento do DNIT,
nem a Vale e nem a direção da Faculdade de Engenharia Naval da UFPA quiseram se
manifestar. A Vale disse, por sua assessoria, que considera encerrado o
assunto. Já a direção da Faculdade de Engenharia Naval informou, em tom
lacônico, que não tem ainda conhecimento oficial da decisão e somente se
pronunciará “quando e se julgar oportuno”.
Já os setores da chamada
“comunidade tecnológica” se mostram menos tolerantes. Eles consideram que o
DNIT tem adotado desde o início “um comportamento errático” em relação ao
derrocamento do Pedral do Lourenço e demonstrado “total falta de compromisso
com os interesses do Pará”. O economista, que faz parte da direção atual do
Conselho Regional de Economia, foi mais enfático. Pedindo para ter seu nome
preservado, já que não pode falar pela entidade, usou de meias palavras. “Eles
estão tentando mais uma vez enganar o Pará. Todas as soluções apresentadas pelo
DNIT inviabilizam cada vez mais o projeto, e desta vez não será diferente.
Podem anotar”, disparou.
Diretor do Dnit diz que Dilma
anunciará licitação dia 28
Depois de um ano de promessas
não cumpridas, possivelmente o governo federal deve anunciar no próximo dia 28
o cronograma de implantação da Hidrovia do Tocantins, cuja obra principal é o
derrocamento do Pedral do Lourenço.
A informação foi repassada pelo
diretor executivo do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes
(DNit), Tarcísio Freitas, durante reunião de negócios realizada num hotel de
Marabá nesta quinta-feira (20).
“O que eu posso dizer é que o
projeto está pronto. Se perdeu tempo no estudo, se perdeu tempo projetando para
agora licitar e ter uma confiança grande naquilo que já está sendo licitado. Eu
posso garantir o seguinte: a obra vai ser licitada e a presidenta [Dilma
Rousseff] vai anunciar a licitação dessa obra no próximo dia 28”, assegurou
Tarcísio Freitas.
Embora exista uma desconfiança
quanto ao anúncio, devido ao longo tempo de incertezas, um fato conta a favor.
Desta vez o Pará não está sozinho: a Associação de Produtores de Soja do Mato
Grosso (Aprosoja-MT) entrou na briga pela hidrovia por entender que Marabá pode
ser a porta de saída da soja produzida no vizinho Estado.
Quem explica é o presidente da
Aprosoja, Carlos Fávaro: “O mundo inteiro transporta seus commodities através
de hidrovia. Não dá para comportar minério nem grãos em cima de caminhões. Não
podemos desperdiçar a dádiva divina de ter rios navegáveis para ganhar
competitividade e não dá para admitir também numa obra como [a usina
hidrelétrica de]Tucuruí a eclusa ficar pronta e não poder ter acesso por falta
do Pedral do Lourenço”.
A ideia dos produtores do Mato
Grosso, em parceria com as associações comerciais dos municípios da região, é
que a soja produzida em Confresa (MT), entre no Pará pela rodovia BR-158,
depois pela BR-155, até chegar a Marabá e daqui até Barcarena, pela
hidroviária.
Mas, para isso, os
investidores precisam não apenas do derrocamento do Pedral do Lourenço. Eles
também têm de convencer o governo federal a acelerar a recuperação dessas duas
BRs.
Empresários do Pará e Mato
Grosso se unem pelo projeto
Durante a reunião que ocorreu
em Marabá nesta quinta-feira, o prefeito João Salame deixou claro seu apoio
irrestrito ao governo federal e afirmou que a abertura do canal de navegação no
Tocantins possibilitará às classes política e empresarial de Marabá e região
retomarem dos diálogos com a Vale em relação à implantação da Aços Laminados do
Pará (Alpa), cujas obras estão paralisadas devido principalmente à falta de
hidrovia, que é por onde a produção será escoada e também por onde o carvão
mineral a ser usado na produção vai chegar a Marabá.
Salame, assim como a
presidente da Câmara de Vereadores de Marabá, Júlia Rosa, cobrou do DNit mais
de celeridade no asfaltamento dos dois trechos que perfazem 15 quilômetros na
rodovia Transamazônica, na altura de Palestina do Pará. Cobraram também a
recuperação de pontes de madeira no sul do Pará, que têm causado acidentes
fatais ao longo de décadas sem substituição por pontes metálicas.
Responsável por articular o
encontro na região, o presidente da Associação Comercial e Industrial de Marabá
(Acim), Gilberto Leite, classificou a ação como um momento importante para
Marabá, porque congrega a classe empresarial do Pará e do Mato Grosso ao
governo federal (DNit) na busca por saídas viáveis para a economia dos dois
Estados.
Caravana
Depois da reunião em Marabá, a
caravana composta por Acim, DNit e Aprosoja (Pró Logística) saiu de Marabá às
10h com destino a Eldorado do Carajás, onde participou de almoço com
representantes da prefeitura e da Associação Comercial de Eldorado. Depois a
comitiva rumou para a Xinguara, onde houve reunião também com a prefeitura e a
Associação Comercial. À noite aconteceu um jantar com lideranças da região no
Sindicato Rural de Redenção.
A caravana partiu nesta sexta-feira (21), às 7 h
com destino a Santana do Araguaia, para chegar à cidade de Confresa, já no Mato
Grosso, no início da tarde. De lá farão um sobrevoo no traçado da BR-158 rumo à
Reserva Marawatsede, em aeronave fretada pela Aprosoja, para concluir a
caravana.
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