Fotos Arquivo: Wellington Hugles
MP denúncia corrupção também em Tucuruí
Na semana em que o Corpo de Bombeiros do
Pará ganhou as páginas dos jornais envolvido em suspeitas de venda de laudos de
vistorias técnicas para liberação de Habite-se de imóveis em Belém, vem à tona
uma nova denúncia que compromete ainda mais imagem da corporação no Estado.
Desta vez a acusação atinge dois oficiais e dois suboficiais acusados do desvio
de alimentos e combustíveis no 8º Grupamento do Corpo de Bombeiros em Tucuruí.
As denúncias foram feitas por um tenente e levaram o Ministério Público Militar
a investigar e denunciar à Justiça os quatro integrantes da corporação, entre
eles, o então comandante do Grupamento, o major Helton Charles Araújo Moraes.
Também foram denunciados o hoje capitão Marcos Felipe Galúcio de Souza, que
está em Marabá, e os o sub-tenentes Lucivaldo Bittencourt Pompeu e Ronaldo do
Espírito Santo.
Segundo a denúncia, o Corpo de Bombeiros
em Tucuruí recebia combustíveis doados pela prefeitura municipal do município,
pela empresa Eletronorte, que administra a usina hidrelétrica e tem escritório
na cidade, e ainda contava com suprimentos do próprio Comando da Corporação.
Da prefeitura de Tucuruí saiam
mensalmente 480 litros de óleo diesel. Já a Eletronorte doava 248 litros de
gasolina, que seriam suficientes para manter a frota do grupamento ao longo do
mês. Não havia, contudo, na administração da unidade, qualquer controle sobre o
uso dessas doações. “Soa estranho que não haja registro de entrada de
combustível nos livros de partes diárias do fiscal de dia do 8º GBM, não
havendo nenhum outro documento comprobatório de que o referido combustível
tenha entrado no quartel do 8º GBM e também registro de consumo que comprove a
fiscalização do combustível”, constatou o Ministério Público na denúncia
apresentada à Justiça. A empresa Eletronorte confirmou as doações. Segundo
testemunhas, o combustível era transportado em ‘carotes’ e em carros
particulares.
QUENTINHAS - O Ministério Público apurou
também o desvio de alimentos que eram doados ao Corpo de Bombeiro pela empresa
Camargo Correa, responsável por obras no município como a das eclusas. Segundo
testemunhas, a empresa doava quentinhas que eram consumidas no grupamento, o
que facilitava o desvio de alimentos não perecíveis enviados pelo Comando.
“Eram entregues nas unidades apenas alimentos não perecíveis, excluindo-se,
portanto, os perecíveis, o que leva a concluir que o primeiro denunciado [o
major Helton], a quem cabia à gestão administrativa militar do 8º GBM, se
apropriava indevidamente desses”, diz a denúncia.
A ação inclui ainda irregularidades no
uso dos recursos arrecadados com o aluguel da quadra de esportes do Grupamento
e a suposta apropriação de uma antena de acesso a Internet do programa “Navega
Pará”, do governo do Estado, que teria sido tirada do local de origem e
instalada em local definido pelo então comandante do 8º Grupamento para uso particular.
As denúncias deram origem a um inquérito
militar que resultou na denúncia à Justiça e foi aberto também processo
administrativo para apurar falhas de conduta dos militares envolvidos. Na
última sexta-feira, o responsável pelo caso, o promotor Armando Brasil
determinou também a instauração do Conselho de Justificação, instância
responsável por julgar pedido de expulsão contra bombeiros. O Conselho deve ser
formado por três integrantes com patentes mais altas que as dos denunciados e
os nomes são escolhidos pelo governador do Estado, Simão Jatene.
O subcomandante-geral do Corpo de
Bombeiros, coronel Mário Moraes, garantiu que todas as denúncias contra
integrantes da corporação serão rigorosamente apuradas. “Qualquer denúncia que
recebemos é investigada”. Além do Conselho de Justificação, ainda não
instaurado, os militares estão sujeitos a possíveis sanções funcionais que
podem ir da advertência à prisão. Os oficiais e suboficiais acusados foram
afastados de Tucuruí, mas enviados para outros grupamentos do Estado. “O
afastamento é necessário para que eles não interferissem na investigação, mas o
caso não foi julgado então não cabe afastá-los totalmente das funções”,
explicou Moraes. Não há previsão para o fim do processo.
Dos investigados, apenas o major Helton
Charles Araújo Moraes falou ao DIÁRIO. Ele garantiu que não teve envolvimento
nos desvios. “Vai ficar claro ao longo do processo que minha assinatura foi
falsificada. Minha história na corporação é pautada pela licitude. Já recebi
comenda e elogios do governador. Tenho interesse em que a investigação ocorra o
mais rápido possível. Esse tipo de denúncia desgasta a gente, mas o servidor
público está sujeito”.
(Diário do Pará)
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