Jornada de lutas, no mês de abril, lembra os 21 trabalhadores rurais mortos e os 67 feridos por policiais militares no Sul do Pará em 1996
Ato em
Eldorado lembra os 19 mortos no massacre
Há 16 anos, a rodovia BR-155, no
município de Eldorado dos Carajás, no sul do Pará, era paralisada por
sem-terras. Cerca de 1.500 trabalhadores acampavam pela região. Em 17 de abril
de 1996, eles realizaram uma marcha exigindo a desapropriação de diversas
terras locais, em especial, a da Fazenda Macaxeira. O secretário da Segurança
do Pará, Paulo Sette Câmara, autorizara a Polícia Militar a fazer uso da força
necessária para acabar com a obstrução da rodovia, que cumpre papel fundamental
na ligação de Belém ao sul do estado e, portanto, ao resto do Brasil.
De início, os policiais, comandados pelo
coronel Mário Pantoja de Oliveira, usaram bombas de gás lacrimogêneo para afastar
os sem-terra dali. Estes resistiram e, providos de foices, facões e enxadas,
permaneceram no local. Os policiais, então, passaram a atirar contra os
sem-terra. Dezenove foram mortos no momento, outros dois, anos depois, e
sessenta e sete foram gravemente feridos, constituindo o Massacre de Eldorado
dos Carajás.
Pouco tempo depois do ocorrido, o então
presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, proclamou o dia 17 de abril
como Dia Nacional da Luta pela Reforma Agrária. A Via Campesina onomearia como
Dia Mundial da Luta Campesina. Desde o massacre, o Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra, o MST, passou a realizar a Jornada de Lutas todo mês de abril
- que veio a ser chamado pela imprensa de “Abril Vermelho” - para protestar em
favor da reforma agrária e contra a impunidade dos 155 policiais envolvidos.
Até hoje, somente dois dos policias
foram condenados. Foram absolvidos 153 nesses 16 anos de processo, e, nesse
momento, o coronel Pantoja e o major Maria Pereira, acusados, recorrem em liberdade.
No final de março deste ano, entretanto, o ministro Gilmar Mendes, em decisão
liminar, afastou as alegações da defesa e decidiu que os autos do processo
retornassem ao Pará imediatamente para cumprirem as penas. Pantoja e Oliveira
foram condenados a 228 e a 154 anos de prisão, respectivamente.
O governador do Pará, à época, Almir
Gabriel, juntamente com toda a cúpula do governo do estado foi isentado pelo
encarregado do inquérito policial militar, o coronel João Paulo Vieira, de
qualquer responsabilidade pelo massacre, de acordo com o MST.
Neste mês de abril, o MST já realizou
mais de 100 atos em todo o país. Em São Paulo, o movimento realizará uma
manifestação hoje (17), em frente ao Tribunal de Justiça de São Paulo, no
período da tarde, exigindo o fim da impunidade dos envolvidos no massacre. Além
disso, no km 26,5 da rodovia Anhanguera, haverá uma paralisação pela manhã. A
Anhanguera é uma das diversas rodovias que serão ocupadas em todo o país,
segundo Gilmar Mauro, da direção nacional do movimento. “Vamos paralisar
diversas rodovias por 21 minutos, em memória aos 21 trabalhadores assassinados
em Eldorado dos Carajás”, disse Mauro.
Ainda no estado de São Paulo, sem-terras
ocupam desde domingo (14) a Fazenda São Domingos, em Saldovina, na região do
Pontal de Paranapanema. A disputa pela terra nessa fazenda ocorre desde 1995.
Ontem (16), em Brasília, o movimento
ocupou o Ministério de Desenvolvimento Agrário. Alexandre Conceição, da direção
nacional do MST, disse que o ato é em memória aos assassinados pelos policias
em 1996. “Reivindicamos o que os 21 trabalhadores assassinados 16 anos atrás
desejavam: a Reforma Agrária”, afirmou Conceição.
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