Operação desbarata quadrilha
de desmatamento no Pará infiltrada nas três esferas de governo
Grupo coagia assentados a
permitirem retirada ilegal de madeira em troca da manutenção do acesso a
programas sociais
Uma operação para desmontar
quadrilha de comércio ilegal de madeira está sendo realizada na manhã desta
segunda-feira, 24 de agosto, em vários municípios do Pará e em Manaus (AM) e
Florianópolis (SC).
O grupo alvo é acusado de
coagir trabalhadores rurais a aceitarem a exploração ilegal de madeira dos
assentamentos do oeste paraense em troca da manutenção de direitos básicos,
como o acesso a créditos e a programas sociais. O prejuízo mínimo estimado ao
patrimônio público é de R$ 31,5 milhões.
Executada pela Polícia Federal
após pedido do Ministério Público Federal (MPF) tendo sido acatado pela Justiça
Federal, a operação Madeira Limpa tem a meta de cumprir medidas de prisão
preventiva ou temporária de 33 suspeitos de integrarem a quadrilha, incluindo
servidores públicos federais e do Estado do Pará. Outro objetivo é a prisão
temporária de um suspeito de ter aceitado propina do grupo, o secretário de
Meio Ambiente de Óbidos, Vinícius Picanço Lopes.
Entre os servidores públicos
federais com prisão decretada estão integrantes do Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (Incra) ― incluindo o superintendente da
autarquia em Santarém, Luiz Bacelar Guerreiro Júnior ― e do Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Entre
os servidores estaduais estão funcionários da Secretaria de Estado de Meio
Ambiente e Sustentabilidade (Semas) e um integrante da Secretaria de Estado da
Fazenda (Sefa).
No Pará, os mandados são
cumpridos em Santarém, Óbidos, Oriximiná, Monte Alegre, e Uruará, no oeste do
Estado, Belém e Ananindeua, na região metropolitana, e em Castanhal, no
nordeste paraense. Além dos mandados de prisão, estão sendo cumpridos 37
mandados de busca e apreensão em residências de suspeitos e nos órgãos públicos
envolvidos.
O MPF também pediu à Justiça
que quatro servidores suspeitos sejam afastados de seus cargos e que os presos
na operação sejam encaminhados ao Centro de Recuperação Sílvio Hall de Moura,
em Santarém.
Crimes – Os investigados são
suspeitos de formarem grupo organizado, estruturalmente definido e com divisão
de tarefas, voltado à práticas dos crimes de corrupção ativa e passiva,
associação criminosa, violação de sigilo funcional, falsidade ideológica, uso
de documento falso, crimes contra a flora e crimes contra a administração
ambiental.
Segundo as investigações do
MPF, iniciadas em 2014, o grupo atuava em três frentes interligadas: um núcleo
intermediador e empresarial, um núcleo operacional centralizado no INCRA e um
núcleo relacionado às fraudes em órgãos ambientais.
Enquanto o primeiro núcleo
concentrava os negociantes de créditos florestais fictícios (esses negociantes
são conhecidos como “papeleiros”) e empresas que recebiam a madeira extraída
ilegalmente, o segundo núcleo atuava diretamente com o desmatamento, sob a
permissão de servidores do INCRA, e o terceiro núcleo era responsável pela
mercantilização de informações privilegiadas sobre fiscalizações realizadas por
órgãos ambientais e pela liberação irregular de empresas com pendências nessas
instituições.
O MPF qualificou como “cruel”
o modo de atuação do núcleo concentrado no INCRA. “O grupo investigado
transformou a SR30 (superintendência do INCRA que abrange o oeste paraense) em
um grande balcão de negócios, fazendo uso da instituição pública, e no
exercício funcional, para viabilizar a extração ilegal de madeira em áreas de
assentados. Muitas vezes, a prática criminosa é realizada sob submissão dos
colonos à precária situação em que são colocados. Precisam barganhar direitos
que lhes são devidos em troca da madeira clandestina”, registra petição do MPF
à Justiça Federal.
Coletivas de imprensa - Serão
realizadas duas entrevistas coletivas para a imprensa em Santarém nesta
segunda-feira, 24 de agosto. A primeira, para tratar da operação em geral, será
às 10h30 na delegacia da Polícia Federal, que fica na Avenida Presidente
Vargas, conjunto Jardim Liberdade, casa 11, bairro Caranazal. Às 15 horas será
feito balanço dos resultados da operação. A segunda coletiva será na sede do
MPF em Santarém, na avenida Cuiabá, 974, bairro Salé.
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